quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Edécio Lopes

À medida que se aproximava o dia 20 de janeiro de 2009 uma angústia debilitante parecia me acompanhar nas manhãs silenciosas de minha sala fria do Palácio República dos Palmares. Nenhuma palavra de alento. Nenhuma esperança. O mais leve traço de consciência furtiva que acalentasse a suspeita de um amanhã da lucidez sonhada e desejada...
Mais uma manhã órfã e por maliciosa artimanha do destino fatal, uma manhã apátrida. Lorca já falara de “tarde sem manhã, noite sem dia”, mas não se tinha falado de manhã sem pátria... manhã despatriada. Manhã sentenciada ao degredo perpétuo sem a luz do Senhor e sem o descanso eterno...
Não. A posse presidencial mais importante da História dos Estados Unidos e mais acompanhada pelo mundo inteiro teria lugar e o Grande Comentarista do Cotidiano Global não estaria tentando entender e explicar o futuro da humanidade à luz difusa do primeiro Presidente negro dos Estados Unidos...
O “home care” do Edécio tinha muito de “care” e muito pouco de “home” e a combinação dos dois não tinha produzido nele um gemido, um esgar que fosse, um olhar sequer de emoção e alegria ao rever as cores costumeiras e queridas da velha casa de tantos anos e dos ruídos repetidos de escolares, de transeuntes e visitantes, de carros e de pássaros perdidos num mundo silencioso sem vida e sem mutação.
Que ironia cruel! Edécio Lopes cuja vida era sinônimo de música, de vitalidade, de festa, de carnaval, da palavra, da oração, do discurso, da entrevista esvair-se dela sem a menor manifestação de sua dinâmica existência...
Quantos mundos ainda por explorar, quantos mistérios ainda por desvendar, quantas questões polêmicas ainda por suscitar, quantas manhãs brasileiras e alagoanas e universais ainda por viver e por colorir e por sonorizar... Quanta vida ainda por viver...
Sempre vivi num mundo de supereducados onde a proximidade com a fronteira do conhecimento permite a esses supereducados a permanente busca da sabedoria, da proeza científica, da ousadia tecnológica. Sem ser desse mundo dos supereducados, Edécio Lopes nas suas ousadas e inteligentíssimas inquisições diárias, delicadamente apelidadas entrevistas, mergulhava nas águas mais profundas mais límpidas ou mais turvas da filosofia, nos meandros mais complexos das religiões, nos emaranhados mais confusos das relações humanas, nos mais complicados modelos médicos de tratamento e prevenção do que quer que fosse, nas múltiplas armadilhas do comportamento político e de todas essas experiências o entrevistador sempre emergia mais conhecedor do assunto objeto da entrevista do que o próprio “supereducado” que acabava de ser entrevistado. Genialidade pura!
Morreu a alma alagoana dignificada num corpo pernambucano.
Metamorfosearam-se os dias. As manhãs já se foram... e não voltarão jamais.

*Eduardo Magalhães é professor da UFAL

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Federalismo dos Estados Unidos

Desde meus primeiros passos no estudo da Teoria Geral do Estado na antiga e conceituada Faculdade de Direito de Sergipe, sou atraído de forma quase irresistível pelos complexos atos e eventos que levaram ao Federalismo puro que se pratica nos Estados Unidos. Cheguei até a criticar a opção de Rui Barbosa pelo mesmo sistema Federal para o Brasil quando a nossa História política apontava de forma insofismável para a obviedade de se manter um Estado unitário.
Em algumas ocasiões critiquei os países da América Latina pela opção pelo desmembramento em várias nações fracas em vez da opção óbvia a ser seguida por um país-continente forte unido pela mesma geografia, língua, religião e tradição histórica afortunada. Alguns escritos de Bolívar parecem insinuar (sem a interpretação de Hugo Chávez) que este deveria ser o caminho.
Continuava, no entanto, a grande questão: por que o Federalismo americano se manteve com tanto vigor permitindo aos Estados membros tamanha autonomia, para uns críticos quase que exagerada, e ao mesmo tempo fazendo florescer um novo tipo de governança moderna local que cada dia avança mais na consolidação do relacionamento produtivo e eficaz entre governantes e governados?
Lendo recentemente o livro Team of Rivals, de Doris Kearns Goodwin, ganhador do Prêmio Pullitzer, o equivalente do Prêmio Jabuti e do Nobel, nos Estados Unidos, que analisa o desempenho dos quatro principais concorrentes à Presidência dos Estados Unidos, em 1860, que culminou com a vitória de Abraham Lincoln, cheguei a uma nova interpretação dessa evolução do Federalismo americano que hoje me parece muito mais forte do que outras que considerei no passado. À medida que evolui a descrição e análise da situação política dos Estados Unidos naquele ano volátil de 1860, mais se pode sentir a força incrível dos estados individualmente, fossem eles do Sul escravocrata como os do Norte abolicionista, onde predomina o senso de uma autonomia plena e total que jamais se curvaria às investidas autoritárias de um Poder Central. Nem mesmo as inúmeras medidas autoritárias e inconstitucionais implementadas pelo Govervo Lincoln, que terminaram por dar a esse Poder Central uma força não antecipada nem desejada pelos Fundadores da Pátria e que em grande escala se mantiveram após a Guerra da Secessão, foram capazes de esvaziar de todo a independência e autonomia de cada Estado da União daí a existência de 50 estados (entes federativos) dentro de um grande Estado, cada um com suas peculiaridades constitucionais e o orgulho de manter intacto o denodo e o regionalismo que os elevaram à condição de estados, muito mais do que meras extensões do Poder Central (Washington).
emj1010@gmail.com

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Caminhos do Sucesso (Tribuna Independente 4/01

No dia primeiro de janeiro de 2009, 102 Prefeitos e Prefeitas alagoanos iniciaram sua administração todos eles imbuídos do mais alto espírito cívico e da esperança de que em dezembro de 2012 sua passagem à frente do seu respectivo Município tenha deixado uma marca de realizações e de sucesso administrativo. A História Política de Alagoas, contudo, registra que pouquíssimos são os prefeitos que vão além da mediocridade e muitos deles não passam da categoria de péssimo.
Para ter sucesso, nesta era sofisticada de gestão de qualidade de governo local, algumas ações são indispensáveis para que Prefeitos e Prefeitas cheguem à escala de bom e ótimo. Para ter sucesso é indispensável:
1. Ter um projeto de governo. Saber exatamente o objetivo a que se propõe a administração. Partir do mais simples para o mais complexo. Facilitar as coisas. Uma boa administração municipal resolve primeiro os problemas mais simples que por serem em maior número dão mais visibilidade ao gestor e terminam por gerar uma sensação de dinamismo administrativo.
2. Ser o líder do governo. Liderar é acima de tudo agir, conduzir, vislumbrar e mostrar caminhos. Assumir riscos. Acreditar e fazer-se acreditado no que diz e no que propõe.
3. Ser o grande motivador da equipe. É responsabilidade do Prefeito ou da Prefeita incutir motivação no coração e na mente de todos os que fazem o seu time de governo. Motivação vem de dentro e por isso mesmo o gestor deve estar sempre próximo dos seus auxiliares para compartilhar com eles do seu entusiasmo, dos seus propósitos –que devem ser os da comunidade- das suas angústias e das suas expectativas.
4. Reunir-se com seus secretários e auxiliares do primeiro escalão pelo menos uma vez todos os meses. Somente através de reuniões periódicas de trabalho é possível gerar sinergia, permitir o conhecimento mútuo dos integrantes da equipe e compartilhar uns com os outros das ações em andamento que nunca serão de um determinado setor senão da administração como um todo. Uma equipe de governo municipal jamais poderá parecer um corpo humano onde a mão tenha ciúme do olho porque não pode ver ou ouvido tenha inveja da boca porque não pode falar nem beijar.
5. Ser ético. O Prefeito ou a Prefeita deve aderir a e respeitar um cânone de conduta ética. Porque o líder maior do Município é sempre um modelo, um protótipo, um “standard”, é de suma importância essa conduta pessoal ética onde não haja lugar para dúvidas e recriminação.
6. Ser honesto. Dizer que a lei já obriga o Prefeito a ser honesto é pura balela. A lei que obriga é a mesma lei que cria brechas que levam à desonestidade. Evite-as. A honra de ser Prefeito ou Prefeita do Município dever ser pautada pela integridade moral, pela ética e pela honestidade. Nunca pela notoriedade da transgressão legal.
7. Ser humilde. A vaidade é o maior inimigo do ser humano. Somente aqueles Prefeitos que penetram na alma e no sentimento dos seus munícipes têm uma real chance de atingir o sucesso em sua plenitude.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Prefeito Cícero Almeida

Escrevi e publiquei, além de declarar na imprensa, que a pior coisa que poderia ter acontecido ao Prefeito Almeida aconteceu: a sua impressionante votação em outubro de 2008. Muito difícil conter a ilusão da imbatibilidade e a dimensão real de poder com uma votação daquelas... A derrota na eleição para Presidente da Câmara de Vereadores de Maceió já começa a mostrar que minha observação deverá estar certa.

Volta á publicação

Depois de algum tempo sem assinar um artigo (o último foi umas notas apressadas sobre Cidadania Democrática) para uma das publicações da Ouvidoria de Alagoas) volto a escrever semanalmente para o Tribuna Independente de Maceió. Comecei o ano com um bilhete com 7 sugestões para prefeitos e prefeitas recém empossados sobre os Caminhos do Sucesso.
Nothing to write home about, mas é uma forma de reiniciar algo que gosto muito de fazer: publicar em jornais. De quebra, meu companheiro de coluna é o amigo José Wanderley Neto, super cirurgião cardíaco e Vice-Governador do Estado de Alagoas.