À medida que se aproximava o dia 20 de janeiro de 2009 uma angústia debilitante parecia me acompanhar nas manhãs silenciosas de minha sala fria do Palácio República dos Palmares. Nenhuma palavra de alento. Nenhuma esperança. O mais leve traço de consciência furtiva que acalentasse a suspeita de um amanhã da lucidez sonhada e desejada...
Mais uma manhã órfã e por maliciosa artimanha do destino fatal, uma manhã apátrida. Lorca já falara de “tarde sem manhã, noite sem dia”, mas não se tinha falado de manhã sem pátria... manhã despatriada. Manhã sentenciada ao degredo perpétuo sem a luz do Senhor e sem o descanso eterno...
Não. A posse presidencial mais importante da História dos Estados Unidos e mais acompanhada pelo mundo inteiro teria lugar e o Grande Comentarista do Cotidiano Global não estaria tentando entender e explicar o futuro da humanidade à luz difusa do primeiro Presidente negro dos Estados Unidos...
O “home care” do Edécio tinha muito de “care” e muito pouco de “home” e a combinação dos dois não tinha produzido nele um gemido, um esgar que fosse, um olhar sequer de emoção e alegria ao rever as cores costumeiras e queridas da velha casa de tantos anos e dos ruídos repetidos de escolares, de transeuntes e visitantes, de carros e de pássaros perdidos num mundo silencioso sem vida e sem mutação.
Que ironia cruel! Edécio Lopes cuja vida era sinônimo de música, de vitalidade, de festa, de carnaval, da palavra, da oração, do discurso, da entrevista esvair-se dela sem a menor manifestação de sua dinâmica existência...
Quantos mundos ainda por explorar, quantos mistérios ainda por desvendar, quantas questões polêmicas ainda por suscitar, quantas manhãs brasileiras e alagoanas e universais ainda por viver e por colorir e por sonorizar... Quanta vida ainda por viver...
Sempre vivi num mundo de supereducados onde a proximidade com a fronteira do conhecimento permite a esses supereducados a permanente busca da sabedoria, da proeza científica, da ousadia tecnológica. Sem ser desse mundo dos supereducados, Edécio Lopes nas suas ousadas e inteligentíssimas inquisições diárias, delicadamente apelidadas entrevistas, mergulhava nas águas mais profundas mais límpidas ou mais turvas da filosofia, nos meandros mais complexos das religiões, nos emaranhados mais confusos das relações humanas, nos mais complicados modelos médicos de tratamento e prevenção do que quer que fosse, nas múltiplas armadilhas do comportamento político e de todas essas experiências o entrevistador sempre emergia mais conhecedor do assunto objeto da entrevista do que o próprio “supereducado” que acabava de ser entrevistado. Genialidade pura!
Morreu a alma alagoana dignificada num corpo pernambucano.
Metamorfosearam-se os dias. As manhãs já se foram... e não voltarão jamais.
*Eduardo Magalhães é professor da UFAL
quarta-feira, 21 de janeiro de 2009
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